Mensagem do Presidente da Comissão do Centenário

Abrantes vai entrar no ano do centenário da sua elevação a cidade. Num tempo de banalização das coisas, que parece convidar mais ao esquecimento do que ao imperativo moral de preservar o passado, a Câmara Municipal não se demitiu dos seus deveres de memória e decidiu impulsionar a comemoração deste acontecimento, numa congregação de esforços em que também é forte o apelo, a que me associo, à comparticipação de todos os seus habitantes e da sociedade civil em geral.

Este também é o momento de dizer que este tipo de iniciativas, que recorrem muito ao ritual e ao simbólico – linguagens que nenhuma sociedade dispensa para saber de si –, não pode ser entendido como um antiquário ato passadista, ou como uma festa que se esgota no momento do seu usufruto, como se de um novo “pão e circo” se tratasse. Ele é igualmente ocasião que incita a que se aprofunde, dê sustentabilidade e visibilidade aos estudos sobre a história da cidade e do concelho, condição necessária para que a autorrepresentação deste possa ser uma sólida premissa de porvir. De onde não ser propósito de quem a promove, nem condenar a evocação do passado ao passadismo, nem reduzi-la a um pretexto para semear a ilusão de que se pode criar o futuro a partir do grau zero da vida dos povos. E basta a presença, nas ruas e no falar do povo, da herança memorial e do património, muitas vezes sob a forma acusatória da perda e da ruína, para negar a amnésia e a indiferença, sobretudo quando se aceita que ela é, atualmente, a par do meio humano e do meio natural, uma das nossas maiores riquezas.

 
Não por acaso, o significado de co-memorar refere-se a práticas que visam memorar e recordar em comum. São, portanto, evocações sociabilitárias, porque apostadas em fomentar sentimentos de pertença a uma comunidade de origem, filiação e desígnio, mas que, nos dias de hoje, só será de todos se for interiorizada através de uma educação democrática e da participação cidadã. Por outro lado, desde que bem compreendida, a comemoração, ao promover o conhecimento, suscita o reconhecimento por parte dos outros, assim como o cimento de uma identidade que tem tanto uma origem natural, como resulta do comprometimento dos seus membros com os destinos da “pátria cívica” de adoção, entidade permanentemente renovada em que o local não pode alhear-se das incidências regionais, nacionais, europeias e globais que caraterizam a vida económica, social, política e cultural contemporânea. Daí que a cultura e o cultivo desta coexistência plural devam ser postulados como horizontes de diálogo com as memórias e os traços que nos restam. E, se soubermos concretizar estes objetivos, conseguiremos contribuir, como muitos outros, para que se ponha o melhor do nossa herança a dar futuros ao passado, ao presente e ao próprio futuro.

 

O Presidente da Comissão do Centenário
Fernando Catroga


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