Elevação de Abrantes a Cidade

 

08.05.1898 //
Manifestado pela primeira vez no semanário liberal “Semana de Abrantes”.
“ Abrantes, cidade. Pretende-se aqui, que Abrantes seja elevada á categoria de cidade…”

03.02.1907 //
Realizou-se o grande comício que levou a Abrantes grandes nomes do Partido Republicano como Bernardino Machado que assume a elevação de Abrantes a Cidade assim que o país se tornasse República. Cerca de 6 000 pessoas reuniram-se na Praça de Touros de Abrantes (na atual Escola Secundária Dr. Solano de Abreu) para ouvirem Bernardino Machado, Brito Camacho, José Maria Pereira, Anselmo Xavier, António José de Almeida e Ramiro Guedes.
Com a promessa de Bernardino Machado “os dados estavam lançados” e os abrantinos ansiavam por esse grande dia.

05.10.1910 //
Abrantes recebe a implantação da República como “o fim desejado para atingir o seu sonho: elevação a Cidade”.

1899 - 1910 //
Neste período os republicanos abrantinos não voltam a mencionar o assunto.

16.10.1910 //
“Jornal de Abrantes”, dirigido por Manuel de Oliveira Neto, referindo a intervenção do Dr. Bernardino Machado no comício da Praça dos Touros, sugerindo à comissão municipal que insista no pedido ao governo para elevar Abrantes à categoria de cidade.
 
15.01.1913 //
Manuel Lopes Valente Júnior apresenta proposta na sessão de câmara para propor ao governo a elevação de Abrantes a cidade, pedindo o reforço ao deputado de Abrantes João José Luís Damas. Uma proposta que “para não ser chumbada, ficou para estudo”.

13.04.1913 //
Reunião do Senado Municipal em que Manuel Lopes Valente Júnior em sessão plenária consegue ver aprovada a sua proposta do seguinte modo: o vereador Valente Júnior insiste na proclamação, com o voto contra de alguns vereadores, sugerindo que a proposta seja novamente analisada em agosto, o que ficou por maioria deliberado.
Após interrupção dessa reunião entre as 18 e 19h e estando em falta dois dos vereadores que se haviam oposto à proposta, Virgílio da Silva Bastos e António Gonçalves Séneca, Valente Júnior lança de novo o assunto à discussão. A proposta foi aprovada, não obstante a relutância em analisar o assunto, pois o presidente da comissão executiva dizia que julgava o assunto já discutido e resolvido naquela sessão, entendendo não se admitir nova discussão, também pelo facto de não estarem presentes dois vereadores que se tinham pronunciado desfavoráveis. O presidente e o vereador Neto explicam que o seu parecer é idêntico. Apesar de todos “declararem que não são absolutamente contrários à proposta e simplesmente com o espírito de se orientarem e depois votarem com consciência”, o presidente submeteu à Assembleia a apreciação do assunto, aprovando a proposta por nove votos contra sete.

30.05.1914 //
A Câmara remete requerimento ao Ministro do Interior.

28.06.1914 //
Bernardino Machado redige e assina o primeiro pedido de elevação da vila de Abrantes a cidade, enviando à mesa do parlamento o que veio a concretizar-se em projeto de lei nº 347-E.
 
25.01. 1915 – 14.05.1915 //
Com a ditadura de Pimenta de Castro o processo foi adiado.

14.05.1915 //
A revolução de 14 de maio levou de novo os democráticos ao poder. Em finais de Maio, Manuel de Arriaga renuncia à presidência da República, sem ter cumprido integralmente o seu mandato presidencial, tendo sido eleito Bernardino Machado.

12.07.1915 //
Com Bernardino Machado na presidência da República, foi apresentado na sessão do Parlamento, por intermédio do deputado abrantino João José Luís Damas, o projeto de lei nº 14-H de que propõe a renovação da iniciativa do projeto de lei nº 347-E. Este projeto baixou à Comissão de Administração Pública, com parecer favorável. O deputado Adriano Gomes Ferreira Pimenta foi nomeado como relator, tendo essas funções sido desempenhadas pelo deputado João Soares (pai do antigo presidente da República Dr. Mário Soares).  

20.05.1916 //
Foi aprovado o parecer de 24.08.1915 com o nº 152, enviado ao senado no mesmo dia, dando origem à lei nº 601.

22.05.1916 //
A Câmara tomou conhecimento oficial por telegrama do Dr. João José Luís Damas e do Senador António Maria Baptista que o Congresso da República deliberou em reunião de 20 de maio, elevar Abrantes à categoria de cidade. Coube a Manuel Lopes Valente Júnior apresentar a proposta.

14.06.1916 //
O Diário da República nº 118 publicava a lei nº 601, assinada pelo presidente da República Portuguesa Dr. Bernardino Machado, com a elevação de Abrantes a cidade. Nesse dia “realizou-se uma imponente manifestação que percorreu as principais ruas, dando-se vivas ao presidente da República, ao deputado João José Luís Damas, ao Partido Democrático, á Câmara Municipal, sendo lançados bastantes foguetes”.

Algumas das figuras abrantinas da época que participaram no processo de elevação de Abrantes a cidade


Dr. RAMIRO GUEDES // 1850 - 1933
Nasceu em Lisboa. Formou-se na Escola Médica de Lisboa e depois de exercer em alguns hospitais da capital escolhe a província para viver, fixando-se em Abrantes em 1881, depois de passar por Alter do Chão e Mação. Depressa se integra nos movimentos políticos e culturais abrantinos. Em 1900 concorre pela primeira vez a deputado pelo círculo 98 (Abrantes, Constância, Sardoal e Mação), continuando nas sucessivas eleições a concorrer sem sucesso. Foi o mentor do grande comício na Praça de Touros em Abrantes, nos dias 2 e 3 de fevereiro de 1907. Após a instauração da República foi nomeado Governador Civil do Distrito, tendo exercido até março de 1911 (cargo que voltou a exercer entre março e dezembro de 1918), seguindo-se depois a eleição a deputado da Nação e posteriormente a senador pelo círculo de Tomar, onde Abrantes estava integrada.

 
DR. JOÃO JOSÉ LUÍS DAMAS // 1871-1938
Nasceu em São Miguel do Rio Torto e foi na Escola Médica do Porto na década de 1890, onde estudou, que aderiu ao Republicanismo. Além de ter sido um grande vulto do Republicanismo em Abrantes, foi também deputado nas Constituintes de 1911 tendo sido deputado mais vezes durante a Primeira República. Era um conhecido médico no concelho de Abrantes, com consultório em Rossio ao Sul do Tejo, na Praceta que hoje tem o seu nome naquela localidade.

 
MANUEL LOPES VALENTE JÚNIOR // 1882-1976
“Fervoroso Republicano” que nasceu em Mouriscas e viveu grande parte da sua vida em Alferrarede, onde era proprietário de um comércio, e em Rossio ao Sul do Tejo, onde teve uma quinta e viveu até ao fim dos seus dias.

Membro do Partido Democrático foi eleito em 1925 presidente da Câmara Municipal de Abrantes antes da implantação do Estado Novo. Era especialmente conhecido pelos ideais democráticos que sempre defendeu. A sua figura singular valeu-lhe a alcunha de o "Peras do Rossio".


O Grande Comício


Realizou-se ao entardecer do dia 03 de fevereiro de 1907, na Praça de Touros do município (na atual Escola Secundária Dr. Solano de Abreu), com a participação de cerca de 6 000 pessoas. Nele estiveram grandes nomes do Partido Republicano como Bernardino Machado, António José de Almeida, Brito Camacho, José Maria Pereira e Anselmo Xavier. Justificado pela sua posição geográfica e pelo seu passado, Abrantes “era um concelho chave no todo nacional.” Na estação dos Caminhos-de-ferro, a 2 de fevereiro, sábado, pelas 21h00, os líderes nacionais Bernardino Machado, António José de Almeida e Brito Camacho foram recebidos por mais de 1000 pessoas ao som de A Marselhesa e A Portuguesa, tocadas pela Tuna do Rossio, e com “vivas ao partido republicano, à liberdade e aos deputados do povo”.

Ainda hoje persiste a dúvida do local de onde Bernardino Machado discursou e assumiu o compromisso de elevação de Abrantes a cidade assim que o país passasse a República, mas desse seu compromisso assumido perante o povo não restam dúvidas. Há quem defenda que foi no comício, mas também há quem afirme que no final do comício, Ramiro Guedes conduziu os dirigentes republicanos para um jantar em sua casa, na Rua Grande, onde se concentraram muitos populares e, a convite de Valente Júnior, Bernardino Machado terá proferido algumas palavras da varanda, tendo antes perguntado o que é que a população de Abrantes mais ambicionava, ao que Valente respondeu por todos “Abrantes cidade, que Tomar já é!”.
 
Com isso Bernardino Machado proferiu as palavras que “encheram de júbilo os corações de todos os abrantinos, republicanos e não republicanos: Quando Portugal for república, a notável vila de Abrantes será feita cidade.”

Mais tarde, os acontecimentos marcantes foram o congresso republicano nacional de Setúbal, de 23 a 25 abril 1909 e do Porto, 29 abril a 1 maio de 1910, ambos com participação de abrantinos, inclusive os órgãos de imprensa assumidos republicanos, o Jornal de Abrantes, propriedade de Manuel de Oliveira Neto e O Abrantes de Aurélio Neto (filho de Manuel de Oliveira Neto). O facto de existirem em Abrantes dois jornais assumidamente republicanos era “caso raro a nível nacional”. Abrantes era a única vila do reino com dois jornais pró-republicanos e a nível distrital, A Verdade era o único que existia em Tomar.

Jornal O Abrantes em relação ao comício: “bela e imponente manifestação em prol dos ideais democráticos; data gloriosa digna de ser inscrita a letras de ouro nos anais do partido republicano local”.

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